sábado, 18 de junho de 2011

Rue Mouffetard

por Henri Cartier-Bresson, Paris (1954)


"Francês considerado o pai do fotojornalismo moderno não usava nem o flash nem a cor.

Henri Cartier-Bresson faria hoje 100 anos. Francês feito prisioneiro pelos nazis, é por muitos considerado o pai do fotojornalismo moderno. Elegeu o preto e branco, elegeu a rua. A morte encontrou-o em paz em 2004.
Ao nome de Henri Cartier--Bresson deve associar-se o de Martin Munkacsi. A imagem de três rapazes nus a correr junto ao lago Tanganica, que o fotojornalista húngaro publicou numa revista em 1931, foi o ponto decisivo: "De repente, percebi que uma fotografia podia fixar a eternidade num instante". Bresson traçava assim o seu rumo e comprava a primeira Leica. A extensão do seu olho, como dizia. E pouco tempo passou desde esse momento - em que deixou a pintura em definitivo - e a primeira exposição, em Nova Iorque, no ano de 1933.
A pequena câmara abriu-lhe todo um mundo de novas oportunidades, permitindo-lhe ser anónimo em ruas apinhadas de gente e captar a vida. Berlim, Bruxelas, Varsóvia, Praga, Budapeste e Madrid foram as escolhas iniciais. Só muito mais tarde viria a dedicar-se à França natal.
O primeiro trabalho de Cartier-Bresson como fotojornalista, publicado na revista francesa "Regards", foi a cerimónia de coroação de Jorge VI de Inglaterra, em 1937: fixou-se na multidão, não fotografou o monarca. Nessa altura, já era fotógrafo do "Ce Soir", mas não chegou a filiar-se no Partido Comunista Francês.
Henri foi capturado pelos nazis durante a II Guerra Mundial e, à terceira tentativa, conseguiu pôr termo a 35 meses de cativeiro e de trabalhos forçados. Além de ter dado a mão a compatriotas também evadidos, fez a cobertura secreta da ocupação e da libertação de Paris. A pedido dos americanos que realizou o documentário "Le retour", em 1945.
Dois anos depois, fundava a Magnum Photos, com Robert Capa, David "Chim" Seymour, George Rodger e William Vandivert. A missão da agência era sentir o pulso da época, colocando a fotografia ao serviço da humanidade. Os sócios repartiram entre si a cobertura das diversas partes do Mundo, e Cartier-Bresson foi inicialmente destacado para a Índia e para a China.
O reconhecimento internacional pelo seu trabalho aconteceu com a cobertura do funeral de Mahatma Gandhi, em 1948. No ano seguinte, testemunhou a saída do Partido Nacionalista chinês - o Kuomintang - do poder e os primeiros meses da liderança de Mao Tsé-Tung.
Bresson foi dos primeiros profissionais a usar o formato 35 mm e contribuiu para desenvolver a chamada fotografia de rua. Só fotografava a preto e branco e nunca usava flash: seria o mesmo que "ir a um concerto com uma pistola na mão". Era tímido e detestava publicidade. Um dia, disse: "No que quer que se faça, tem de haver uma relação entre o olho e o coração". O dele parou a 3 de Agosto de 2004, a escassos dias de completar 96 anos."

in Jornal Notícias, 22-08-2008


"A leiloeira Soler y Llach, de Barcelona, decidiu suspender o leilão de um terço dos lotes que pretendia pôr à venda com fotografias de Henri Cartier-Bresson. A decisão surgiu depois da fundação com nome do fotógrafo, um dos principais fotojornalistas do século XX, ter defendido que 66 das imagens em leilão não poderiam ser vendidas por se tratar de “fotografias de imprensa e com assinaturas falsas”.
A Soler y Llach tinha anunciado um leilão, a decorrer amanhã, com peças de Cartier-Bresson e de Agustí Centelles, outro dos grandes nomes do fotojornalismo. No catálogo estavam 174 lotes com objectos de Cartier-Bresson, mas a leiloeira decidiu entretanto suspender a venda de perto de 60, como explicou o director do departamento de fotografia da Soler y Llach, citado pela edição online do "El Mundo".
A decisão foi a resposta às "pressões" da Fundação Cartier-Bresson sobre a leiloeira, que, segundo Juan Naranjo, já se verificaram noutras ocasiões, nomeadamente a propósito de um outro leilão em Nova Iorque. No entanto, esta é a primeira vez que um leilão é suspenso após uma intervenção da fundação.
"Pensámos sobretudo nos nossos clientes e na imagem da leiloeira e no seu departamento de fotografia, criado recentemente", disse o responsável, ao justificar a decisão de suspender o leilão. Juan Naranjo sublinha que se trata de uma decisão temporária, em vigor até que fiquem esclarecidas as dúvidas legais. "Reservamo-nos o direito de actual legalmente contra a fundação", acrescentou.
Naranjo considerou "estranhos" os argumentos utilizados pela Fundação Cartier-Bresson, relembrando que "há dois anos, quando se expuseram as mesmas fotografias [agora contestadas] em Valls, a fundação tinha conhecimento e a imprensa elogiou a exposição".
Nos lotes suspensos estão algumas das imagens mais emblemáticas da carreira de Cartier-Bresson, como "Derrière la Gare Saint-Lazare" (1932) ou "Rue Mouffetard" (1955)."

in Jornal Público, 26-05-2010

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